Irmãos,
Que Jesus em sua infinita bondade abençoe a cada um de nós.
Hoje estou muito feliz por estar aqui e contar minha ultima passagem nesse plano.
Vim , em minha ultima passagem, de uma vida pobre e difícil no sertão nordestino.
Casa de barro com muitos bichinhos, que a gente quebrava o bico na unha, mais tarde
já velho descobri o nome deles: barbeiro.
Apesar da fome e pobreza éramos felizes, eu e todos os meus irmãos.
Ais 4 anos já acompanhava meu pai na roça e aprendi com ele o sabor da cachaça, não por
desvio, mas ela também aliviava as dores.
Anos depois, já um rapaz, parti em busca de riqueza no Sul.
Foi a ultima vez que vi minha mãezinha entre nós.
Anos depois ela partiu por causa de uma cobra que a picou, e por falta de médico e conhecimento,
ela se foi.
A vida continuou dura no Nordeste, ainda sem “mainha”.
Eu, no sul, nada pude fazer , e doeu, senti na alma a dor da sua partida.
Já adulto e com família, aq minha família, eu virei papai e não “painho”, como sempre imaginei.
Fui no Nordeste e busquei meu pai, e cuidei com todo meu amor e carinho, até sua partida, em um
dia do sétimo mês.
Assim a vida passou, família com filhos difíceis, esposa que se cansou e que era difícil também, porque
a criação do Nordeste é diferente da criação do Sul.
No trabalho de pedreiro construí meu casebre de tijolos e foi uma felicidade.
Tijolos, não era mais barro !! eram tijolos !!! ( blocos de concreto)
Logo descobri o motivo que me traria d volta para o plano espiritual, conheci como sendo a doença
do bicho barbeiro.
Foi tudo muito difícil, tratamento, remédios, desgaste, até a minha partida, onde quem me estendeu
as mãos foi “mainha”.
Isso, irmãos, conto para que saibam que nunca se pode desistir dos sonhos e da luta.
Sempre ter fé, o amor, o esforço, saber que quando se apega, se consegue.
Irmãos, um menino faminto do Nordeste desencarnou como um velho do Sul.
O menino do Nordeste sofreu, passou fome, frio, chuva, mas passou.
E o menino do Nordeste aprendeu que não importa a tempestade, o sol vai voltar.
E não importa o estrago que a chuva fizer, sempre teremos como começar novamente,
E construir tijolo por tijolo.
Jesus os abençoe irmãos.
Vou com o coração cheio de gratidão por poder falar a vocês de minha passagem.
Sebastião Antunes dos Santos.